Vestindo-me de noiva

31/07/11, 10h da manhã de domingo. Acordei com algumas frases na cabeça, O que foi aquilo ontem?; Eu não estava pronta; Que m@#$%! Parece que to de ressaca! (E eu não bebo)

Acordei de ressaca, ou sei lá, acordei de um caixote que levei na praia da Barra.

Ainda estou muito zonza. Eu ia direto tomar banho agora, estou até com a touca na cabeça, mas tinha que vir aqui e escrever: Comprei meu vestido de noiva.

_Jura???

_Por tudo o que é mais sagrado.

Nem acredito no que eu fiz.

Por mais que eu já soubesse exatamente o que eu queria há anos, estou com uma baita dúvida: será que em outubro, na 1.ª prova, vou amar meu vestido que ainda não existe? 
E todos os vestidos de noiva que não vesti? E os estilistas brasileiros maravilhosos com quem não conversei? É isso mesmo: comprei meu mítico vestido num evento?

Ontem aconteceram muitas coisas, mas vou contar só isso:

Por volta das seis e pouca da noite saí de casa com minha mãe. No portão de casa me despedi de Dedê com um beijo apaixonado, ele iria pra casa (nem tem graça ele ir comigo) e me disse "Divirta-se!"

Fui dirigindo pela Lagoa, cantando Vida Reluz e olhando para certos elementos no caminho, como o Cristo Redentor, um píer na Lagoa que fica na altura do clube do Vasco... Só Deus sabe o que tudo isso significa pra mim... E estava lá eu, com milhares de significantes me cercando, indo vestir pela 1.ª vez na vida um vestido de noiva. De farra, de teste para ver como ficava, mas eu não estava com intenção de comprar.

Apesar de me perder (oh!), chegamos antes do horário no Hotel Sheraton, na praia da Barra, para o evento "Salão da Noiva". Encontrei até gente conhecida! Fui recebida muito bem, sentamos em um espaço amplo, com espelhos e vestidos pendurados para conversarmos sobre o modelo. Uma senhora (cujo nome esqueci mesmo, mas a filha dela se chama Nathalia, isso lembro) super paciente foi pegando vestidos para eu experimentar. A gente foi para um provador grande onde fiquei de calcinha e sutiã (agradeci a Deus por ter me lembrado de por bonitas peças de baixo e ter me depilado). Primeira coisa que passou pela minha cabeça quando eu estava naquele tubo branco com os braços pra cima: Como é fácil e rápido por um vestido de noiva! Em 1 minuto eu estava pronta, segurando a saia e indo para a sala mostrar pra minha mãe.

Tá, ninguém chorou naquela hora. Senti-me no programa "O vestido ideal" da Discovery, mas sem ninguém chorando. Ao invés disso eu estava sorrindo, me sentindo gata, mas não noiva. Acho que é porque eu não os via como vestidos, desses mega lindos que a gente vê no Oscar, só que brancos. Me via de figurino. É, figurino de noiva, como se eu fosse subir no palco a qualquer momento pra dançar de noiva. E também estava vendo meus defeitos no espelho (mais precisamente minha musculatura supra escapular, onde ficam aqueles gordinhos infelizes que teimam em aparecer quando ponho tomara que caia).

Nem lembro quantos vesti, menos de 10, mas não me apaixonei por nenhum. Apesar de perceber que eles trabalham bem pra caramba, uma costura perfeita, estrutura, caimento, corte, acabamento... Tudo perfeito, eu poderia vesti-lo do avesso.

Mas rodei, pulei e dancei com os braços pra cima pelo tapete da sala. Diverti muita gente lá, eu sei. Mas eu esta só testando, afinal eu não ia usar o vestido só pra tirar foto.

Durante toda prova eu disse coisas como: To precisando malhar mais...; Esse vestido me deixa com um peitão!; Esse tirou minha bunda!; Nossa, como vestido de noiva pesa!; Lá vou eu de novo!

Teve uma hora em que eu parei. Estava com um vestido todo rendado e fiquei me olhando no espelho, num momento muito eu-comigo-mesma. E todo mundo em volta parou também. Um fotógrafo começou a tirar fotos de mim e era como se ele não estivesse ali. Acho que o estilista (cujo nome também esqueci) pensou "Ai, graças a Deus, ela achou o vestido!", mexeu no meu cabelo, pos uma mantilha linda, me pos um casaqueto e eu continuei me olhando por longos 10 minutos.

Não era ainda aquele vestido. Eu só estava me admirando mesmo, lambendo aquele momento.

Finalmente eu disse alguma coisa: "Ainda não é esse", e senti o estilista virando os olhos. Ele disse "Então vamos ter que fazer sob medida" e meu coração veio na boca e o engoli de volta em seco. Sob medida! Um vestido que não existe! Só meu! Acho que era isso que eu queria ouvir!

Aí foi um tal de poe vestido porque-a-parte-de-cima-ficou-legal e dobra vestido ao meio porque-gostei-daquela-saia, poe o 1.º vestido de novo... Sei que teve uma hora em que eu sorri e disse: "É, por aí" e fomos desenhar meu vestido. Pus minha roupa "normal" e fiquei vendo o estilista trabalhar.

Ele terminou dizendo "É o seu vestido" e eu pensei "Não é não...", mas disse "Só falta eu me ver dentro dele" (acho que ele estava esperando que eu dissesse "Ai, que lindo" e desmaiasse). Mas gostei do que vi. Só que um desespero geminiano subiu pela minha espinha quando eu percebi o que estava acontecendo, assim como o peru percebe porque estão dando comida demais para ele perto do natal. Eu não iria sair de lá sem vestido, nem que eles tivessem que me amarrar e começar a me torturar com cócegas. O jogo dos orçamentos começou e a insegurança ficou forte, uma sensação horrível. 

_Mas você experimentou um montão de vestidos e montamos o que você quer... O que tá faltando?

_Não sei...

_Mas isso é o que você gostou!

_E se eu quiser mudar? E se eu quiser fazer a saia de outro jeito?...

_Isso a gente pode resolver nas provas

_Mas ainda não sei... _me sentia como que casando forçado com alguém que nunca vi na vida e naquela noite ainda teria que dormir com a pessoa.

_É o valor? Vou te fazer uma proposta indecente...

E o vestido, de alta costura, feito sob medida, com muito tecido caro saiu para mim com o preço de um 1.º aluguel de loja de vestido de noiva de bairro. Sério! Eu não tive como recusar! Mamy passou o cheque e comprei o vestido!

Justo eu que queria comprar um vestido pela internet ou comprar os panos no Caçula e mandar fazer na costureira de sempre... Acabou que o valor ficou bem equivalente, com a vantagem de eu ter o meu vestido estilo Vera Wang e poder vendê-lo quando eu bem entender, recuperando boa parte do investimento.

Uma das melhores partes foi tirar as medidas. Uma vovó, que me fez lembrar a minha que está no céu, foi me medindo enquanto conversava comigo. A responsável pela parte do orçamento me disse que a famosa rua das noivas de São Paulo não é mais aquela, que seus vestidos estão meio bregas (só se você garimpar muito que acha algo legal) e que o que é bacana está no bairro dos Jardins (e muito caro) e que o Rio não possui muitas opções de vestidos bons prontos, que há poucas lojas onde achamos coleções de estilistas internacionais (e ainda caros), que a melhor opção para as cariocas é fazer mesmo ou esperar pelas feiras para achar algo bom. O Salão da Noiva é um evento de São Paulo, que roda em várias outras cidades, com preços bacanas.

Enquanto faziam meu contrato, tive um momento mãe-e-filha. Abracei minha mãe e chorei, perguntando a ela como eu iria pagar tudo o que ela estava fazendo por mim. Vi pelo enorme espelho quando ela disse "Você já pagou no dia em que nasceu".

Adorei todo mundo. Dei beijos e abraços em todos sendo a última a sair, mais de 10 da noite, olhando o mar escuro e bravio. Era como se eu tivesse acabado de sair de lá.

_Dê? Oi amor, te acordei?

_Hm... Foi... E aí?

_Já tenho meu embrulho!

(Imagem: Barbie por Reem Acra, extraída do site http://wp.clicrbs.com.br/noiva, que eu adoro e devoro)